Pra tirar o peso dos seus ombros...
Uma vez entrei numa rede social e, rolando o feed, me deparei com um “checklist da mulher cristã virtuosa”. A mulher era a primeira a se levantar, se arrumar para ficar muito bonita e perfumada, fazia o café da manhã de todos, fazia sua devocional, acordava o marido e os filhos com muita alegria, servia-os à mesa, levava as crianças na escola, ia para o trabalho, buscava as crianças na escola, fazia almoço e servia a todos, arrumava a casa, passava nos mercados com promoção do dia para fazer a compra da semana mais barata, ajudava os filhos na lição, conduzia a devocional deles, fazia o jantar e alimentava toda família, colocava as crianças para dormir às 18h30 e se arrumava para seu marido, servindo-o com uma boa noite de amor.
Quando eu li aquilo, eu ri e pensei: “Senhor Amado, como estou longe de ser virtuosa!” Mas, ao passar do tempo, percebi que essas ideias estavam cada vez mais presentes na minha rede social, vindo de vários lugares. Confesso que comecei a ficar mal. Uma sensação de que não sabia fazer nada certo. Minha casa estava desorganizada, meus filhos ficavam na TV mais tempo que eu gostaria, eu não conseguia servir os 5 grupos alimentares de uma vez nas refeições, minha devocional não estava em dia, eu estava de chinelo e tinha acabado de descobrir um furo na blusa, não conseguia nem lembrar se era quinta ou sexta para ir ao mercado certo da promoção certa para fazer a feira. Pior, não tinha mais fruta em casa e eu precisei introduzir o pão de queijo antes da hora para minha filha. Meus amigos vinham pra minha casa e os brinquedos das crianças estavam espalhados por todo canto, roupa pendurada na cadeira da sala…
Comecei a questionar minha feminilidade. Comecei a questionar minha maternidade. Questionei meu jeito de ser esposa e minha personalidade. Por fim, questionei a minha fé. Eu fechei os olhos para o que Deus estava fazendo e passei a olhar para o que faltava em mim, em casa, nos filhos, no marido… Passei a murmurar mais, pesar mais minhas relações, brigar mais com minha família. Tudo porque eu não conseguia atingir o padrão tão alto de uma mulher cristã virtuosa.
Saí um pouco das redes sociais, porque me adoecia não ser boa o suficiente. Passei a olhar o que Deus estava fazendo em minha vida e na minha família. De repente, meu filho que não dormia a noite toda com 2 anos, começou a dormir. De repente, ele pediu para experimentar um alimento novo, coisa que nunca havia acontecido até então. De repente, recebi um “eu te amo” do fundo do coração vindo do meu marido. De repente me atentei para o amor cultivado entre meus filhos. Minha casa desorganizada virou lugar de encontro, choro e transformação de vários amigos. E eu perguntava: Mas Deus, eu ainda estou tão longe do padrão!
Conversando, lendo, orando, cheguei à conclusão de que meu modelo de fé e prática estava equivocado. Quando pensamos em feminilidade cristã, logo pensamos na multifuncional mulher virtuosa de Provérbios, como se nosso valor se provasse no que fazemos bem feito, de salto, escova e sorriso no rosto. Mas, esquecemos que fomos feitas à imagem e semelhança de Deus e que nosso verdadeiro modelo de vida é Cristo Jesus. Ele sim foi plenamente humano e cheio do Espírito. O que Deus espera de nós é que sejamos parecidos com Cristo, com nosso caráter semelhante ao Dele, repletos do fruto do Espírito. Ele não exige de nós performance. A mulher virtuosa não é virtuosa porque faz muitas coisas, porque virtude tem a ver com caráter, e caráter transformado tem a ver com o que o Espírito Santo está fazendo em nós.
O que o Espírito estava fazendo em mim? Eu era capaz de perceber as transformações do meu caráter ao longo dos anos?
Não há problema algum em ter a mesa posta, estar sempre elegante e bonita, ser uma mãe que opta por cuidar dos filhos. Como também não existe problema nenhum na mãe que optou por trabalhar no escritório, na xícara com a borda lascada pra visita e no chinelo que você usou ao deixar seu filho na escola. Isso não nos faz nem mais nem menos mulher. O que nos dá plenitude de vida é parecer como Jesus.
Deus está muito mais preocupado em nos transformar. Ele não exige uma mesa farta e bonita, mas prefere que estejamos aprendendo Dele, caminhando com Ele, ouvindo-o bem de perto e sendo transformadas pelo poder da sua Palavra. Ele quer que sejamos pacientes e sensíveis ao que o Espírito está fazendo agora em nossa vida. E não só em nós, mas em todos à nossa volta. Quer que olhemos com misericórdia para aquela mãe que está aprendendo a ser mais paciente com o filho de 2 anos. Que olhemos com misericórdia para a adolescente que começou a lidar com os hormônios da TPM. Que sejamos misericordiosas com a senhora que acabou de descobrir um nódulo no seio e está com medo. Em cada uma delas, Deus está fazendo algo e moldando vagarosamente Cristo. Neste processo bonito, somos convidadas a olhar e reconhecer a boa mão do Pai em cada uma.
Deus não nos fez para competirmos umas com as outras para ver quem chega no pódio de quem parece mais a mulher virtuosa. Nem muito menos está com uma lista vendo qual de nós cumpriu com o check-list da mulher virtuosa a fim de premiar a vencedora. Deus nos fez para aprendermos a caminhar juntas, nas fases diferentes da vida, nos jeitos muitos de ser mulher e cristã, prosseguindo sempre para o alvo, que é Jesus Cristo em nós. E sempre certas de que Aquele que começou a boa obra, vai completá-la quando voltar. Neste dia, olharemos umas para as outras e veremos o caráter do nosso Salvador escancarado em cada uma, e esse certamente será o melhor dos nossos dias.
